sexta-feira, 1 de maio de 2009

Mudanças radicais

Há poucos dias ouvi de um dos acionistas do Grupo Jacto a frase: “vejo nossas empresas passando por mudanças radicais”. É claro que assenti, pois ainda que eu tente enxergar a empresa como eles não consigo. Sou míope e minhas lentes de contato não me dão o poder de ver com a visão telescópica dos acionistas e diretores, que com prudência e arrojo chegaram até onde poucos já conseguiram.

Mas como consolo, tateio um pouco melhor o que está perto de mim. Há uns dois anos vejo os alunos adolescentes da Escola Chieko Nishimura transitando pelos setores da empresa uniformizados com camiseta verde e realizando tarefas temporárias. Observo que alguns são trazidos à portaria da empresa pelo pai ou pela mãe, e até há quem chega com o pai e juntos passam pelas catracas, não mais como visita, mas como companheiros do labor.

Com a quietude característica dos sábios aprendizes e concentrados no que fazem, observo-os trabalhando esporadicamente próximo do meu setor. Quando os vejo absorvidos em uma tarefa ou recebendo instruções, atentos como filhotes de coruja, minha rotina diaria ganha trilha sonora e bate uma vontade de ser pai de todos, pois abrigam em si esperanças e sonhos com mais verdor que o uniforme que vestem. Com uma mão estão guardando os brinquedos da infância que se vai e com a outra saudam a alvorada da fase adulta com seus devaneios e com a pergunta que demorará em se calar: "quem eu quero ser? ".

Alastra-se em mim um entusiasmo quando penso que não estão à mercê de um mercado que mais exclui do que acolhe, colocando-os em um sofrimento solitário de um subemprego. Pelo contrário, a experiência deles transcende a realidade social e estão envolvidos pela fragrância inspiradora da vida do fundador da escola e pelo nome de sua esposa. Um casal que construiu no fim da linha do trem que desceram o início de promissoras viagens para muitas famílias.

Estes alunos são sementes, e com elas se plantam florestas. Por isso, logo após o fim desta crônica em oração me achegarei ao Criador. Êle que deu estas sementes ao semeador e dará crescimento à sua plantação. Rogarei que estas sementes não se percam, e se alguma se encontrar um dia em solo árido, que ao cheiro de poucas águas elas brotem e vinguem o sonho de quem as lançou.

De fato, até um míope pode ver mudanças radicais acontecendo.