quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O silêncio do sabiá

O Hospital das Clínicas de São Paulo tornou-se há quase dois meses meu ponto de encontro com minha esposa aos finais de semana. Ela foi um alvo de pesquisa aos profissionais de lá. O desafio foi encontrar o motivo dos transtornos que sacudiram a vida dela, e da nossa família há um bom tempo.

Deus, que tem a chave de todas as portas, abriu-nos caminho daquele complexo hospitalar. Felizmente, não só encontraram a origem do problema, como seguem tratando muito bem dela. Ainda falta responder algumas questões, mas já a deixaram em um estado que faz o sorriso vir fácil quando se olha para ela.

Num certo quarto, alem de encontrar minha esposa, da janela, observo muitos sabiás nas arvores e telhados. Nem sempre os vejo, mas em dia ensolarado, a canção deles impõe-se sobre o ruído das sirenes e agitação daquele lugar.

Entretanto, em alguns dias o “Senhor Clima” resolve esconder o céu de primavera com uma cortina de nuvens, como se fossem de chumbo. Quando não há sol, não há o canto do sabiá. O silêncio deles não soa como protesto ou arma de uma greve, muito menos inspiração vencida. A quietude declara que se sujeitam à vontade do soberano clima.  Cantar soaria irreverência, um atrevimento sem propósito. A avezinha sabe que os ponteiros do tempo marcarão o momento de voltar a estufar o peito e encher os ares com seu trinado.

Sabedoria é a professora que nos ensina que há tempo para tudo. E os sabiás conhecem o tempo para cantar e o tempo para calar. Isso me aquietou, pois estava um tanto incomodado por não conseguir escrever a mais de dois meses. Aprendi que, no meu caso, o céu fechado me fez igual a um sabiá.

Eclesiastes 3:1 - Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.