sábado, 12 de junho de 2010

O DESFILE

Por várias vezes, sentei e fiquei olhando para a página em branco no computador tentando escrever este texto. Sentia-me diante de um deserto a ser atravessado com palavras. A tarefa de falar do Sr. Shunji Nishimura para o Informativo* deixou-me apreensivo e inseguro. Pois, se corro o risco de não ser justo ao falar de quem conheço, quanto mais do mito Nishimura. Explico o porquê: o mais próximo que estive dele foi em seu próprio velório.

Buscando ideias, revirei a internet. Quase me perdi entre as mais de 17 mil matérias que encontrei sobre a vida e feitos do Sr. Nishimura. Não seria difícil parafrasear uma delas, quase todas bem escritas. Mas, não está no meu DNA artifícios deste tipo. Além disso, a memória do seu Nishimura é digna de ser honrada por hábeis escritores. Eles são capazes de talhar com palavras a vida como um escultor faz com sua obra.

Mas, “se quem vê o filho, vê o Pai”, como afirmou Jesus, quem vê a obra, vê seu criador. Os feitos de Shunji Nishimura discursam sobre ele sem ajuda de palavras. Olhar para eles nos põe mais perto deste grande homem de pequena estatura. Sua trajetória é um contraste marcante na história da nossa geração.

Se fizermos um desfile de seus feitos numa avenida, nossas pernas seriam fracas para manter-nos em pé até o final da exibição. Passariam diante de nós milhares de alunos e técnicos. Todos formados no conhecimento e no caráter, pelas escolas construídas e mantidas por ele. Seguiriam outros milhares de máquinas. Cada uma delas, criadas para ajudar a produzir mais alimentos em quase todo mundo. Guardada pelos filhos, em um grande carro, estaria sua mais cara herança: gratidão, trabalho e honestidade. Encerrando o desfile, haveria uma multidão de pessoas e famílias que desfrutam de suas empreitadas. Uma destas famílias seria a minha, e quem sabe, a sua também.

* Esta crônica foi escrita para o Informativo da Unipac nº 7 de junho de 2010