segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A RUA

Foi a rua. Foi uma rua que em meus primeiros momentos entre os muros da Jacto mais me impressionou. Poderia ser a organização, limpeza ou outros atributos patentes de uma empresa com cultura ordeira e trabalhadora - mas não foi. Foi a rua que do começo ao fim fende e se põe entre os prédios da Jacto como uma aorta no corpo humano. Do lado de fora, quem passa pela rodovia com os olhos fitando seus muros e telhados mais altos, até com mente rígida facilmente imagina galpões com máquinas e operários circulando e interagindo-se. Mas como um cego de idéias, não pensa que há uma rua lisa e esguia como uma graciosa avenida.

Será que ela já existia antes da Jacto e aos poucos foi sendo tomada pelos braços da próspera empresa, ou rasgaram-na de fio a pavio por entre os galpões e construções à medida que se erguiam? Quem chegou primeiro pode responder, pois como nós um dia ela teve um início. Mais modesta com certeza, talvez com pedras ou grosso revestimento rude aos pés, mas generosa para seu fim de ser um leito para ir e vir com matéria prima, produtos e gente trabalhadora - muita gente, que está aqui hoje e que já esteve e não está mais.

Quando dispara o som da sirene, essa gente – e faço parte dela - transforma este canal que liga os escritórios, depósitos e oficinas como num rio em época de cheias que quer transbordar. Esvaziam seus postos e lotam os poucos metros de largura pelos 400 de comprimento, apresentando um apressado desfile que mais parece uma marcha. Como um tiro rápido e reto seguem para a refeição e descanso, escola, família ou outros fins não contados, até que ao próximo grito da sirene voltam como que escoando pelo canal e vazando novamente para de onde saíram, continuando a construir a própria história e da rua, da empresa, da cidade e de nossa geração.

Esse ritmo e rotina dão um clima, cheiro e alma para essa rua que nos torna iguais, como irmãos na mesma casa, como obras das mãos de um só Criador. Nela caminham os que batem e os que não batem cartão, os que chegam e saem a pé, de bicicletas ou motorizados, e não é incomum ver nela se cruzarem operário, gerente ou presidente.

Ela não conhece o som e o alarido de crianças brincando ou correndo e jogando peladas, nem a boa conversa dos vizinhos ao fim do dia e nem o triste cortejo de um funeral, mas conhece o sonho e o esforço de jovens e pais de família, as idéias e as soluções da engenharia. E assim, com energia e generosidade ela vai permitindo escoar de si trabalho, riqueza e sustento, como um porto que despede os teus para os mares e continentes ao encontro de outros portos e gentes.

Aprendi amar essa rua e sua nobre alma, desconhecida para muitos e sem nome nos mapas, mas particularmente estimada pelos sentimentos e essência que destila pelos poucos metros que nela ando.