domingo, 14 de agosto de 2011

VIAGEM AO LUGAR SECRETO

Entrei no circular rumo ao trabalho certo de não encontrar acentos vazios. Para ser mais claro, nem esperava por espaços sobrando para ficar em pé. Como um trapezista, estiquei o braço para segurar nas barras do corredor do veículo buscando equilíbrio, habilidade que não pode faltar a nenhum passageiro de ônibus circular ou desta vida.

Algo chamou minha atenção entre os passageiros sentados. Notei que alguns lugares aparentemente estavam vazios. De onde eu estava não via o rosto de alguém que poderia estar sentado naqueles espaços. Com um pouco de contorcionismo dei alguns passos em direção à eles. Arriscando um olhar de quem nada quer a um destes espaços encontrei à altura de uns 40 centímetros do assento um topetinho de cabelo iluminado por reflexos de gel. Deduzi que foram as mãos caprichosas da mãe do passageiro mirim que fizeram aquela escultura capilar.

Ao lado da criança havia uma jovem senhora. Os traços do rosto dos dois denunciavam que se tratava de mãe e filho. O olhar da criança era curto e ligeiro, como de passarinho assustado. Entretanto, quando se voltava para a mãe, parecia espreguiçar seus olhos sobre ela. Havia entre eles um ar de satisfação. Ambos, modestamente bem vestidos, pareciam seguir para uma ocasião especial. Os pés do filho que nem tocavam o chão, balançavam querendo apressar a chegada. “Qual seria o destino deles?”, pensei.

E o que acontecia com os outros acentos que pareciam vazios? Acertou quem respondeu que também levavam a dobradinha mamãe e filhote, comportados e banhados de expectativas. Geralmente, as mães com filhos de idade como aqueles precisam de mais de dois braços para contê-los no banco. Entretanto, notei que aquelas não usavam nem os próprios para ter suas crias quietas e bem comportadas.

O enigma do destino delas se desfez quando vi que as crianças usavam camisetas idênticas, alusivas a um evento entre pais e filhos aos funcionários de uma empresa do mesmo grupo que sou funcionário. Portanto, decifrei aquele comportamento peculiar de quem sonha; Estavam prestes a conhecer e ter atividades no local de trabalho da mãe ou do pai. Seria para elas como penetrar no esconderijo do seu super-herói. O mistério daquele lugar guardado entre muros e só conhecido em parte pelas estórias ouvidas no jantar se revelaria em poucas horas.

Desde aquela viagem repetem-se em minha mente as cenas dos olhares entre mãe e filho. Não sei se continuam a olharem-se como os vi, pois o motivo daqueles semblantes foi-se com o pôr do sol, mas as expressões que assisti colaram em minha mente. Hoje, elas convertem meus sentimentos aos de uma criança nesta viagem que faço rumo ao dia de entrar no lugar secreto do meu Criador e eterno Pai para uma aventura sem fim com Ele.