quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

SESTA. NEM SEXTA, NEM CESTA.

Nada contra ela. Pelo contrário, tudo a favor. Até combate doenças cardíacas dizem os estudiosos. Mas porque me sinto tão inadequado quando vejo trabalhadores cochilando no intervalo do almoço? Ou melhor, fazendo a sesta – nem sexta, nem cesta.

Geralmente agrupados e conectados numa rede do sono, estiram-se onde há sombra e protagonizam quase uma cena surreal. Dormem alheios a todo movimento em torno deles. Parece algo sagrado, onde os que estão acordados são os profanos, e os que dormem purificam-se.

Botina transforma-se em travesseiro, meias nos olhos, no maior estilo, servem para quebrar a luz. A sombra das arvores prestam-se de coberta de uma leveza que nem rainhas desfrutam. O comprimento e a largura do chão são as medidas da cama, deixando qualquer cama box king size com complexo de inferioridade.

Confesso que às vezes experimento uma ponta de inveja por não me sentir tão à vontade de dormir dessa forma tão simples. No fundo meu organismo pede isso, mas meu preconceito rejeita. Assim, depois de almoçar acabo encontrando mil coisas pra me ocupar neste intervalo.

Alguém já disse “porque simplificar se a gente pode complicar?”. Acho que no dia a dia faço eco a essa frase com minhas atitudes. Parece que tornar complexa a vida está em nós como o coração está no peito. Não é a toa que existe hoje nas grandes cidades negócios que oferecem casulos recheados de tecnologia e conforto por um doce sono e um salgado preço para breves cochilos durante o dia.

É certo que o sono ainda é cercado de mistérios, mas dormir é simples e essencial para a vida como a roda é para a humanidade. Não sei se um dia serei encontrado cochilando num canto qualquer. Entretanto, a partir deste ano quero ser mais simples, tendo em mente que a simplicidade como a de uma criança leva-nos à porta de entrada do reino dos céus, quando dormiremos o sono sem fim.


A sesta - Van Gogh (1890)