segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

ACENDER OU APAGAR?

Glamour, encantamento e brilho
Glamour, encantamento e brilho. Estes substantivos intangíveis transpiram por todos os espaços e momentos em viagens de transatlânticos como o Costa Concórdia, que afundou na costa oeste da Itália. Ares de dignidade entre tripulantes e tripulação tecem sobre o mar um clima bem diferente do que se vive  em terra. Aos que viajavam no Costa Concórdia, subitamente o romance se desfez: um solavanco abalou "tudo e todos" pelo encontro de uma rocha com o casco do navio. Como uma carruagem que virou abóbora, findou-se a viagem e o sonho dos milhares naquele castelo sobre as águas.

 Francesco Schettino
Hoje, a curiosidade levou-me a procurar uma imagem do capitão do navio. Encontrei na internet centenas de fotos de Francesco Schettino. Fotos de antes e depois do acidente.  As tiradas após o acidente são muitas, mostrando-o com cara de "Cinderela sem os sapatinhos de cristal". Mas encontrei apenas uma imagem dele antes da fatídica noite; nela, sua pose e aparência são como as de um galã do tipo 007: transmitem confiança e magnetismo.

Agora, todos sabem que, se ele gritou “mulheres e crianças primeiro”, foi do lado de fora do navio, e no primeiro lugar seguro que encontrou naquela noite escura. Estranhamente, pensando na madrugada negra daquelas pessoas, lembrei-me das muitas noites sem luz que povoaram meus dias de criança. Para mim, e para meus irmãos e amigos da rua, as noites quentes e escuras eram cenário perfeito para caçarmos vagalumes: com uma peneira nas mãos, de pernas finas e joelhos grossos, corríamos atrás das pequenas luzes de cor verde que voavam sobre nossas cabeças. A caçada acabava quando conseguíamos jogar a peneira sobre os pontinhos luminosos, interrompendo aquele vôo reluzente.

Com o cuidado e a precisão de um caçador, guardávamos em caixas de fósforos aqueles pirilampos. Era um mistério para nós, mas o simples inseto, quando ameaçado, acendia uma luz esverdeada, tornando aquelas caixinhas como um troféu nas nossas mãos. Após tanto tempo, a imagem daquela luz e a lembrança das caixinhas estão guardadas nos meus pensamentos feito jóias em estojos de veludo. Entretanto, a figura estelar do capitão se desfará breve, pois no escuro e diante do medo, até que provem o contrário, o brilhante Francesco apagou-se, transformando-se em um tosco ser. Com atitude oposta à do capitão, no escuro e diante do medo, o rude vagalume brilhava uma luz que encantava nossos olhos, provocando a sensação de sonhar acordado. Isto sim, quero guardar e imitar.
Acender ou apagar?