segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Confraternização dos talentos

Em dezembro a rotina de quase todos setores das empresas se transforma pelas confraternizações. A descontração, bebida e boa comida na mesa brindam a convivência no ano passou - e que ano! Entretanto, o que mais me atrai nessas confraternizações é estar com os que se servem da mesa; ou seja, os colegas de equipe com suas virtudes, realizações e amizade.

Durante o ano proporcionaram-me a sensação de trabalhar dentro de uma galeria de talentos e habilidades. Tornaram meu dia a dia de trabalho mesclado com contemplação e admiração. A oportunidade de sentar em torno de uma mesa com alguns ou com todos é um privilégio. É como entrar no camarim do artista favorito e ser chamado pelo nome.

Cada um deles vivenciou dramas secretos, e entretanto criaram, desenvolveram, executaram tarefas e encontraram soluções de problemas de vários calibres e dificuldades. Ao longo do ano com meus olhos apreciei, com a mente digeri e a com emoção sorvi a criatividade, a disciplina, a atenção e o cuidado que cada um derramou durante dias, semanas e meses. Um dissecou questões como um hábil cirurgião, outro enfrentou demandas complexas como um apaixonado que não foge dos desafios. Cada um dos demais com seu talento, como um instrumento, emprestaram seu som a uma harmoniosa orquestra.


Observo em cada um dos colegas aspectos da sabedoria e graça de Deus (doador da vida e dos talentos) formando uma equipe, como as cores juntas formam um arco-íris adornando os céus. Contemplar tudo isso acende o desejo de confraternização e faz o convite ganhar filetes de ouro. Porque não se confraternizar? sempre que posso vou, e para isso vou vestido com minhas melhores roupas de gratidão.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

VAI-VEM

Apesar da velocidade e facilidade que os emails oferecem para se comunicar, gosto de enviar e receber correspondência por envelopes. Eles despertam em mim algo especial, a começar pelo som ao soltar suas abas, e quando é segredo seu conteúdo, abrí-los é quase um ritual. Entretanto, como os telefones públicos e outras utilidades, eles também estão entrando em desuso, acrescentando uma sensação de saudade ao vê-los vagando de lá pra cá.

No grupo Jacto vejo ainda circulando os úteis VAI-VEM, feitos de papel resistente para durarem 120 viagens. Há poucos dias vi um destes “heróis da resistência” chegar às mãos de uma colega do setor. Preso em seus dedos estava o VAI-VEM, no seu rosto ares de admiração mesclado com ternura, na sua boca uma sugestão: “Heron, escreve sobre isso”. A inspiração despertou como de um sono.

Aquele envelope, com quase todos de-para preenchidos já tinha feito pelo menos 112 viagens, faltando apenas 8 para se aposentar. A quantidade que carregava de rugas e marcas não era muito menor que as perfurações dos grampeadores. Enquanto eu olhava o estado geral do VAI-VEM, minha colega ia mostrando nele o nome de pessoas que já passaram pela empresa há uns 5 anos. Seu dedo não apontava apenas um nome de remetente ou destinatário, mas um quadro que foi pintado ou uma janela construída nem tão longe e nem tão perto no tempo.

De cá-pra-lá e de lá-pra-cá, cada VAI-VEM, como numa mostra itinerante do tempo continuará suas viagens de porto em porto declarando as trocas entre as pessoas. Com certeza eles não dirão se perguntarem, mas escondem em suas dobras e rugas os sentimentos e palavras dos que os enviaram e receberam.

Gostaria de algum dia erguer um cálice a um desses VAI-VEM utilizados até o fim. Muito mais, almejo ser como um deles, com todo potencial consumido em sua jornada. Seria um privilégio desfrutar vazio como eles o entardecer dos meus dias, sem mais o que dar, tendo na mente a mesma frase de Paulo, veterano e inspirado escritor da fé cristã: “combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”.



domingo, 18 de outubro de 2009

Mentes e atitudes incomuns

Oskar Schindler: Eu poderia ter conseguido mais. Eu poderia ter conseguido mais. Eu não sei. Se eu ao menos... Eu poderia ter conseguido mais.
Itzhak Stern: Oskar, há mais de mil e cem pessoas aqui que estão vivas por causa de você. Olhe pra elas.
Oskar Schindler: Se eu tivesse feito mais dinheiro... Eu gastei tanto dinheiro. Você não tem ideia. Se eu ao menos...
Itzhak Stern: Haverá gerações graças ao que você fez.
Oskar Schindler: Eu não fiz o bastante!
Itzhak Stern: Você fez muito. [Schindler olha para o seu carro]
Oskar Schindler: Este carro. Goeth teria comprado este carro. Por quê eu fiquei com ele? Dez pessoas logo ali. Dez pessoas. Dez pessoas a mais. [remove seu distintivo nazista de ouro da lapela]
Oskar Schindler: Este distintivo. Duas pessoas. Duas pessoas a mais. Ele teria me dado duas por isso, no mínimo. Uma pessoa. Uma pessoa, Stern. Por isto.
Oskar Schindler: Eu poderia ter conseguido mais uma pessoa... e eu não fiz isso! E eu... não fiz isso! “

Este diálogo está nas cenas finais do filme “A lista de Schindler” onde o diretor Steven Spielberg conta a história de um empresário alemão que usou seu dinheiro e conexões para libertar 1100 judeus dos campos de concentração nazista, em plena 2ª Guerra Mundial. Apesar da cena estar na tela, quase se pode pegar com as mãos a frustração e insatisfação de Schindler por não ter feito mais do que fez. O impulso desse desprendimento e dedicação é a marca de um apaixonado, como Schindler foi pela alma humana.

Quase sempre minha mente é assaltada por estas cenas quando vejo alguém dedicado em fazer mais. E isso aconteceu na abertura do mais recente evento do Dia da Melhoria, quando a Flávia disse que os funcionários que aceitaram o desafio de fazer mais apresentariam suas ideias de melhoria. Minha expectativa subiu como leite na fervura em relação ao que viria pela frente.

Eu tinha que decidir se experimentaria com ou sem emoção os próximos 90 minutos. Fechei os olhos e decidi – será com emoção. Afinal, não é por metro ou por quilo que se encontram ideias que efetivamente mudam as maneiras de se trabalhar para torná-las mais eficiente e satisfatória. Geralmente elas nascem na mente de pessoas tidas como insatisfeitas, que não se conformam com uma rotina de resultados medianos. Frequentemente fazem mais do que pedem para ser feito, pois possuem a marca das pessoas que vivem e trabalham com paixão.

Quem fechasse os olhos naquele auditório, nitidamente teria a impressão que os funcionários apresentando suas ideias sentiam-se donos ou filhos dos donos da Unipac. Expuseram suas soluções como se fossem os únicos responsáveis pelas perdas de óleo, de tempo e de materiais, e finalizavam com satisfação. Alguns até demonstravam surpresa com o resultado alcançado.

Muitos podem estranhar atitudes assim, pois não é padrão deste mundo ser alguém que anda duas milhas quando lhe pedem uma. O comum é conformar-se com olho por olho e dente por dente, satisfazendo-se apenas com o holerite por recompensa. No entanto, atitudes incomuns abrem a porta para recompensas incomuns, que começam com a gratuita alegria de tornar a vida de outros melhor de ser vivida.

Equipe do Dia da Melhoria em 31 de julho de 2009

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A RUA

Foi a rua. Foi uma rua que em meus primeiros momentos entre os muros da Jacto mais me impressionou. Poderia ser a organização, limpeza ou outros atributos patentes de uma empresa com cultura ordeira e trabalhadora - mas não foi. Foi a rua que do começo ao fim fende e se põe entre os prédios da Jacto como uma aorta no corpo humano. Do lado de fora, quem passa pela rodovia com os olhos fitando seus muros e telhados mais altos, até com mente rígida facilmente imagina galpões com máquinas e operários circulando e interagindo-se. Mas como um cego de idéias, não pensa que há uma rua lisa e esguia como uma graciosa avenida.

Será que ela já existia antes da Jacto e aos poucos foi sendo tomada pelos braços da próspera empresa, ou rasgaram-na de fio a pavio por entre os galpões e construções à medida que se erguiam? Quem chegou primeiro pode responder, pois como nós um dia ela teve um início. Mais modesta com certeza, talvez com pedras ou grosso revestimento rude aos pés, mas generosa para seu fim de ser um leito para ir e vir com matéria prima, produtos e gente trabalhadora - muita gente, que está aqui hoje e que já esteve e não está mais.

Quando dispara o som da sirene, essa gente – e faço parte dela - transforma este canal que liga os escritórios, depósitos e oficinas como num rio em época de cheias que quer transbordar. Esvaziam seus postos e lotam os poucos metros de largura pelos 400 de comprimento, apresentando um apressado desfile que mais parece uma marcha. Como um tiro rápido e reto seguem para a refeição e descanso, escola, família ou outros fins não contados, até que ao próximo grito da sirene voltam como que escoando pelo canal e vazando novamente para de onde saíram, continuando a construir a própria história e da rua, da empresa, da cidade e de nossa geração.

Esse ritmo e rotina dão um clima, cheiro e alma para essa rua que nos torna iguais, como irmãos na mesma casa, como obras das mãos de um só Criador. Nela caminham os que batem e os que não batem cartão, os que chegam e saem a pé, de bicicletas ou motorizados, e não é incomum ver nela se cruzarem operário, gerente ou presidente.

Ela não conhece o som e o alarido de crianças brincando ou correndo e jogando peladas, nem a boa conversa dos vizinhos ao fim do dia e nem o triste cortejo de um funeral, mas conhece o sonho e o esforço de jovens e pais de família, as idéias e as soluções da engenharia. E assim, com energia e generosidade ela vai permitindo escoar de si trabalho, riqueza e sustento, como um porto que despede os teus para os mares e continentes ao encontro de outros portos e gentes.

Aprendi amar essa rua e sua nobre alma, desconhecida para muitos e sem nome nos mapas, mas particularmente estimada pelos sentimentos e essência que destila pelos poucos metros que nela ando.
 

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Criolando, Salomão e o fim de todos

Criolando, Salomão e o fim de todos

Em quase toda cidade do interior existem aquelas pessoas que se tornam populares pela excentricidade ou esquisitice que vivem. Lembro-me que em Jaú, onde cresci até minha juventude, havia um homem que andava sempre acompanhado de um cavalinho de pau. Criolando, como era conhecido, com seu inseparável cavalinho visitava todos os velórios, e chorava em cada um deles. Não bastasse isso, se fato ou folclore, conta-se que prognosticava quem morreria naquele dia, chegando muitas vezes até passar pela casa de tal pessoa. A morte o acompanhava, e a dupla - homem e cavalo - seguia aquela que atormenta os vivos. Enquanto tantos buscam festas para ocupar suas agendas e esquecer-se das preocupações, Criolando procurava os que pranteavam a perda dos seus. Hoje, a sepultura de Criolando é uma das mais visitadas no cemitério jauense.

Loucura ou sabedoria? Excentricidade ou altruísmo generoso? Condenação ou consolo? Antagonismos a parte, de um modo claro, o sábio rei Salomão concluiu que é melhor estar onde há luto do que onde há festa, pois no velório se vê o fim de todos. Na festa, ou de festa em festa, este evento real e inevitável é ofuscado, mas não apagado. E como qualquer coisa séria e certa na vida, deve-se considerar tal fato e seu desdobramento com temperança. Criolando que o diga.

Já que velório é um privilégio, ou melhor, uma oportunidade que nos enriquece, como regra fui abençoado no último que participei em Pompéia. Infelizmente a família querida e admirada por mim e por muitos sofria a dor do adeus, do laço da vida sendo desatado para um dos seus. Mas certamente estão consolados por crerem que as pontas deste laço estão nas mãos daquele que faz e desfaz os tais.

Na sala velatória, por detrás do caixão, janelas de blindex permitiam ver a paisagem de montes e vales com árvores e arbustos revigorados pelas chuvas de verão. O dia também se despedia, sendo apressado o fim das luzes por nuvens densas de chuva que se formavam e eram movidas pelos fortes ventos que sopravam. Subitamente os contornos destas nuvens eram destacados por relâmpagos que cortavam a paisagem. Nesse quadro quase inexplicável meus olhos se fixaram por um tempo. Vi as árvores, umas mais altas, outras mais baixas e robustas vergando-se aos ventos, que apesar de invisíveis como as tribulações da vida, não se podia negar sua presença insistente em dobrar quem se punha em seu caminho.

Que metáfora da vida! Logo ali, por detrás da cena da morte e diante dos olhos dos vivos. Vida que luta contra o invisível, e insiste em combater a faminta morte. Vida que resiste para permanecer e ser eterna como é seu criador, que um dia destruirá a teimosa que se opõe à sua criação. Para mim um dia a corda se soltará, o laço se romperá e as forças acabarão. Onde deitarei minha alma quando aos ventos eu não resistir mais? Um corpo cansado em qualquer chão pode repousar, mas e uma alma, onde repousará?

Com estes pensamentos na mente meu olhar estava voltando para dentro da sala no momento que iniciávamos uma cerimônia de despedida cantando “Mais Perto Quero Estar, Meu Deus de Ti”. Com a emoção embargada por esta canção, a mesma que a orquestra a bordo do Titanic tocava quando o naufrágio era certo, respondi e dei sossego pra minha alma enquanto via o fim de todos.

Heron Caetano
Enviado por Heron Caetano em 16/08/2009

domingo, 2 de agosto de 2009

Pegadas

Não demorei muito pra perceber que usar o SAP é como andar na areia da praia - o nome do usuário, como a marca dos pés, sempre fica gravado por onde se passa. Alem disso, é como se a areia petrificasse em seguida, registrando a pegada para a posteridade, não tendo chuva ou maré que apague a danada.

Como as funções de um analista de T.I. invariavelmente envolvem análise de processos e lançamentos no SAP, geralmente estou como um enxerido buscando o usuário responsável para tratar de alguma questão. Quando procuro o nome do autor de um registro, uma discreta tensão surge e parece que a palma da mão vai molhar o mouse. É quase a mesma sensação ao acionar o “Enviar” de um email ou o “Publicar” desta crônica no blog. É que a informação sai, mas não sai só. Leva a personalidade de seu dono, quase que a própria presença - e os números e letras ganham cheiro, rosto e caráter. Assim, minha conexão com o registro torna-se quase humana.

Procuro desfrutar destes relacionamentos como bênçãos de Deus, pois há usuários que suas pegadas transcendem o meio magnético e passam a marcar meus sentimentos como pegadas de elefante, deixando as suas marcas num ir e vir infinito. E há outros que descobrem novas e criativas maneiras de executar um processo já padronizado, transformando nossa rotina num eletrizante passeio na montanha russa.

Penso que essa necessidade em gravar o nome por onde se passa não nasceu na casa do SAP, mas é inerente a qualquer humano - dos astros que assinam seus nomes na calçada da fama aos satélites como nós que gravamos desde a infância nossas iniciais no cimento fresco, portas e paredes da vida.

Talvez isso tenha a ver com o desejo de driblar a finitude de nossa existência, registrando assim a passagem sobre a Terra ou até mesmo sobre a Lua como fez Neil Armstrong há 40 anos atrás deixando sua pegada no solo lunar.

Portanto, assim como é inútil na Terra, na Lua e no SAP o esforço de tentar andar sem deixar marcas, sorria quando clicar no “Gravar”, seu nome estará sendo gravado.

Esta crônica é uma homenagem aos usuários SAP do Grupo Jacto.

Sou Peter Pan no coração

 

Sou Peter Pan no coração

Terminaram as grandes homenagens a Michael Jackson. Agora observo as luzes caírem sobre a causa da sua morte. Um mistério que talvez seja uma gota comparada ao oceano de segredos que banhou seus dias neste mundo. Vida que a excelência e a miséria disputaram minuto a minuto, uma querendo ocupar o trono da outra.

Não sou doutor da mente nem tenho mente de doutor. Por isso antes de tentar entender as bizarrices e controvérsias da vida do astro me apiedei e esvaziei a alma que insiste em encher-se de reflexões e explicações. Como entender a mente dele se nem a minha que parece um “kinder-ovo” consigo?

Mas foi prato cheio e “bombou” entre os analistas de plantão uma das últimas declarações do astro dizendo “sou o Peter Pan, no meu coração sou o Peter Pan”.

Com meus botões eu pensei: Será alienação ou delírio dizer que é ou quer ser no coração um Peter Pan? Percebo que este anseio de viver na terra do nunca e não ser tragado pela morte, é apenas mandar pra fora com a boca da criatura o que foi posto por dentro com o sopro do criador: o sentimento de eternidade no coração de quem foi feito a imagem e semelhança dEle.

Só que a vida neste mundo tem duas filhas: a graça e a desgraça. Desde o princípio o ser humano foi feito para viver com a graça, mas arriscou um “selinho” na boca da desgraça e esta não o deixou mais, fazendo-nos existir como Cinderela presa aos ponteiros da meia-noite. Essas cordas de tensão e ansiedade só podem ser aliviadas pelas mãos da graça.

E como uma flor que nasce no pântano, a graça apresenta-se na vida de todos banhados pela miséria. O pai de Michael Jackson ninguém merece, mas quem sabe outro talvez tivesse insistido que o filho fosse jogador de futebol ou um doutor, mas não um dançarino e cantor que brindou nossa geração com a apoteótica arte que saiu de sua alma e de seu corpo.

Assim como sei que Manaus é no Amazonas, é certo que aqui não é o jardim do Éden banhado pelos seus rios, mas a graça nos acompanha, amada e amiga servidora, para ser lembrada e buscada como tesouro gratuito.

Apenas vivo e quero continuar vivendo, caminhando em direção a terra do sempre que Deus me deu. O desafio é viver neste mundo com os pés no chão e os olhos nas estrelas.

Heron Caetano

domingo, 5 de julho de 2009

Raízes

Em qualquer ambiente que estou procuro por quadros, sejam eles pinturas ou fotos. Depois passo os olhos pelos adornos e móveis. Sem sons – pelo menos por enquanto – eles geralmente falam de quem frequenta e ornou aquele lugar, e podem contar segredos e anseios da alma que nem sussurrando às paredes seus arrumadores confessariam. Assim, quando posso, debruço meu olhar sobre estas peças e deixo os sentidos apreciarem suas nuances e histórias até então não contadas.

Mas na sala de espera do RH da Jacto, na parede ao lado do bebedouro de água, há um quadro que quando olho pra ele não o observo de fora, entro nele, deixo-me ser capturado. Nada de especial do ponto de vista artístico ou técnico, pois é uma montagem fotográfica já desbotando, como aqueles troféus amarelados na estante que ainda não foram guardados em um armário qualquer.

Trata-se de uma homenagem do ano de 1998, por ocasião dos 50 anos da Jacto, aos funcionários com mais de 30 anos de empresa. Hoje seriam mais de 40 anos! São homens que entraram na Jacto e a Jacto entrou neles - uma simbiose, uma relação de benefício mútuo que se tornou nossas raízes. Isso que o quadro me sugere com a imagem das indústrias e da Fundação no alto, no centro o Sr.Nishimura, e abaixo de tudo, como no subsolo, 17 rostos com olhos que me olham e bocas que me dizem que estou ligado a uma grande e forte arvore sustentada por profundas raízes.

Penso que muitas vezes durante as décadas de trabalho, carentes de recursos e tecnologias, como que raízes de uma planta sofrendo a escassez de água, tiveram que buscar nutrientes e soluções aprofundando-se no solo alem do normal, firmando e projetando assim uma arvore que já foi bem provada e aprovada pelos ventos de não poucas tempestades.

Bate-me um respeito, uma vontade de apertar a mão de cada um, e até pedir um conselho como escreveu o profeta Jeremias: “perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho” - pois alguns deles ainda andam entre nós. Sei que este sentimento, inerente nos valores do Grupo Jacto, não é comum nos meandros do profissionalismo contemporâneo, pois para muitos dos profissionais de hoje, o pai e o avô que trabalharam mais de 30 anos em uma mesma empresa não são exemplos a serem seguidos, mas evitados.

Para mim não é apenas um quadro de um ano jubilar da empresa, mas é uma janela da casa de uma família - dos filhos da paciência e netos da perseverança.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

NASCIMENTOS e FALECIMENTOS

Quem entra ou sai da Jacto pela portaria de pedestre passa imediatamente por eles. Bem ao lado das catracas erguem-se dois painéis distintos e bem confeccionados para comunicar os nascimentos e falecimentos na família dos funcionários.

O painel NASCIMENTOS tem a cor azul bem clarinho, já o FALECIMENTOS é de um azul mais solene. Ambos estão fincados lado a lado como esguias sentinelas, olhando para a rua e os prédios que formam o complexo fabril.

Mudos, mas como quem olha decidido e sem vacilar, fitam de frente todos que saem da empresa pela portaria de pedestres e proclamam:
- Eis aqui teus filhos e eis aqui teus mortos.

Não tanto pela estética ou design - mas pelo que anunciam - eles atraem meu olhar com o magnetismo peculiar dos nobres e ilustres personalidades. Não consigo passar por eles sem olhá-los. Vejo-os ao entrar e ao sair.

Seguro a respiração para ler o que FALECIMENTOS proclama, como se isso me ajudasse a sorver o anúncio todo com um friozinho na espinha. Já NASCIMENTOS me faz soltar o ar e um sorriso ao imaginar os rostinhos santos dos donos dos novos nomes apontados ali.

Invariavelmente gravitam em minha mente estranhos pensamentos sobre aqueles painéis, pois parecem que têm uma alma, uma personalidade e uma vocação. Chego até a pensar que quando sós, sem olhos que os mirem, passam o tempo desafiando-se e disputando o próximo anúncio. Imagino-os tambem angustiados, querendo comunicar algo a mais do que anunciam. Será que eles teriam mesmo algo mais a nos dizer?

Mas enquanto o eco da voz que ordenou-nos “crescei e multiplicai-vos” rebombar por aqui, NASCIMENTOS continuará renovando suas proclamações como o sol a cada manhã. Mas sei também que FALECIMENTOS não ficará atrás, pois a fome da sepultura ainda é grande, e ansioso aguardo o dia que será calada por aquele que a abandonou sem o auxilio de mãos humanas.

Até que esse dia chegue, para NASCIMENTOS e FALECIMENTOS não faltará serviço, nem mesmo em épocas de marola na economia.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Mudanças radicais

Há poucos dias ouvi de um dos acionistas do Grupo Jacto a frase: “vejo nossas empresas passando por mudanças radicais”. É claro que assenti, pois ainda que eu tente enxergar a empresa como eles não consigo. Sou míope e minhas lentes de contato não me dão o poder de ver com a visão telescópica dos acionistas e diretores, que com prudência e arrojo chegaram até onde poucos já conseguiram.

Mas como consolo, tateio um pouco melhor o que está perto de mim. Há uns dois anos vejo os alunos adolescentes da Escola Chieko Nishimura transitando pelos setores da empresa uniformizados com camiseta verde e realizando tarefas temporárias. Observo que alguns são trazidos à portaria da empresa pelo pai ou pela mãe, e até há quem chega com o pai e juntos passam pelas catracas, não mais como visita, mas como companheiros do labor.

Com a quietude característica dos sábios aprendizes e concentrados no que fazem, observo-os trabalhando esporadicamente próximo do meu setor. Quando os vejo absorvidos em uma tarefa ou recebendo instruções, atentos como filhotes de coruja, minha rotina diaria ganha trilha sonora e bate uma vontade de ser pai de todos, pois abrigam em si esperanças e sonhos com mais verdor que o uniforme que vestem. Com uma mão estão guardando os brinquedos da infância que se vai e com a outra saudam a alvorada da fase adulta com seus devaneios e com a pergunta que demorará em se calar: "quem eu quero ser? ".

Alastra-se em mim um entusiasmo quando penso que não estão à mercê de um mercado que mais exclui do que acolhe, colocando-os em um sofrimento solitário de um subemprego. Pelo contrário, a experiência deles transcende a realidade social e estão envolvidos pela fragrância inspiradora da vida do fundador da escola e pelo nome de sua esposa. Um casal que construiu no fim da linha do trem que desceram o início de promissoras viagens para muitas famílias.

Estes alunos são sementes, e com elas se plantam florestas. Por isso, logo após o fim desta crônica em oração me achegarei ao Criador. Êle que deu estas sementes ao semeador e dará crescimento à sua plantação. Rogarei que estas sementes não se percam, e se alguma se encontrar um dia em solo árido, que ao cheiro de poucas águas elas brotem e vinguem o sonho de quem as lançou.

De fato, até um míope pode ver mudanças radicais acontecendo.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O primeiro DANFE ninguém esquece

Num clima que fundia tensão e ânsia fazíamos os últimos ajustes e revisões de configurações e dados, tentando encontrar algo que faltou ou foi feito equivocadamente que poderia quebrar nossa expectativa da emissão da primeira Nota Fiscal Eletrônica e a respectiva impressão do DANFE (Documento Auxiliar da Nota Fiscal Eletrônica) da Unipac em ambiente de produção.

Enquanto o Marcelo Pedroso transpunha a ponte da vibrante vida dos solteiros para a bem-aventurada dos casados, nossa jornada tinha que ter seu fim naquela noite de sábado e ponto. Ninguem queria adiar, ainda que o sábado tivesse que ter mais de 24 horas. Éramos como uma mulher que no momento do parto sabe que chegou sua hora e não quer resistir ou esperar mais, pois aguarda firmemente que os gemidos se transformem em risos.

- “Vou faturar e seja o que Deus quiser”: disse a Marcélia pouco depois das 22h, e clicou no botão Salvar da VF01. Os segundos se arrastavam enquanto acompanhávamos os status de transmissão e retorno ao SEFAZ. Mas assim que retornou o status “NFe Autorizada” foi como ouvir nosso nome em noite de formatura. Era uma recompensa olhar aquela bandeirinha quadriculada no monitor da Nfe no SAP.

E faltou boca em nosso rosto, pois quantas tivéssemos teríamos repletas de sorrisos. E se nossa pele tivesse o tamanho de um lençol de casal, nenhum milímetro ficaria sem arrepios.

O Paulinho trouxe da impressora o DANFE, e em suas mãos vi o documento como um infante segurado pelo pediatra. Parece que o impresso tinha cheiro, cor e textura tão fresco como de um bebê ou dos cadernos e livros que abrimos pela primeira vez.

Seguramos e passamos o DANFE de mãos em mãos como que abençoando-o ou procurando nele algum defeito. Houve quem discretamente chorou. Derramou-se por todos que correram muitas vezes como quem corre com um pé quebrado, mas chega. Isso mesmo, chegamos e o Grupo Jacto conquistou mais um quinhão.

Fotos não podiam faltar e nem os alvissareiros telefonemas e emails aos que gostaríamos de brindar junto aquele momento enquanto a noite já fazia juz às noites de outono, agradável e fresca como um lençol de cetim.

Assim, com a mente acelerada e o coração grato apagamos as luzes faltando poucos minutos para o domingo, e voltamos para casa sabendo que o primeiro DANFE nenhum de nós esquecerá.

Heron,
grato a Deus e à competência dessa equipe que me ensina todo dia.
O Ademar que fotografou e está atrás da câmera.


domingo, 8 de março de 2009

Uma relação quase incontida

Poucos meses após nossa mudança para Pompéia comecei a trabalhar na AFL na Rua Domingos Raggi. Cotidianamente, caminhando para casa no final do dia, enquanto este era suavemente sorvido pela noite como uma doce iguaria, assistia um gratuito e surpreendende espetáculo. Um comboio de máquinas Uniport, seguia batedores com luzes piscando freneticamente pela Rua Presidente Eurico Gaspar Dutra em direção à Av. Industrial para algum entreposto antes de serem repassadas às mãos de seus donos em algum lugar deste país ou alem fronteira.

Aquelas máquinas com os faróis acesos assemelhando-se a espadas de luz desfilavam como um exército em demonstração de força. Isso me fazia sentir como um figurante de um filme de George Lucas. À medida que a marcha continuava, me via entregue ao entusiasmo de um espectador impulsionado a aplaudir uma obra que não era ficção ou um produto de Hollywood, mas fruto real de idéias e trabalho que em gotas diárias ao longo de décadas produziu este oceano de tecnologia e vanguarda para o mundo.

Minha relação com as obras que fazem a história é um pouco estranha. Cada vez que as vejo penso em quem as fez, como viviam, quais eram seus desafios, satisfações e sonhos. Mesmo quando ando pelo centro de Pompéia observo a arquitetura das construções, seus detalhes e ornatos que de modo geral estão velados por modernos painéis das lojas e escritórios. Que mãos desenharam, e quais acentaram os tijolos e ornaram suas fachadas? Gostaria de encontrar uma foto deles, e ver seus filhos e suas roupas.

Como na criação relatada no livro de Gênesis, onde o homem recebeu do espírito de seu criador, sinto que nestas obras há um pouco da vida e dos dramas de quem suou e trabalhou até transpor a barreira do imaginário para o real. Os materiais e superfícies que formam tais obras, abrigam a história destas pessoas, carregando impregnada nelas o cheiro e emoção dos seus obreiros, faltando apenas ganharem uma alma.

Hoje, trabalhando no Grupo Jacto, geralmente chego de manhã na portaria antes das catracas abrirem. Ali, entre os muitos colegas que ao chegarem se acumulam como águas junto a uma comporta que se fenderá, ouço um pouco da estória de alguns que não se constrangem em falar para que ouvidos alheios escutem. Falam do desgosto ou da satisfação com o time do coração, do carro que não sai da oficina, do fim de semana trabalhado no aumento de um quarto para o filho que nascerá..., até que rigorosamente às 6:45h as gentis catracas dão passagem a todos para entrarem pela fábrica e escritórios como uma onda até então represada, levando consigo suas estórias para com horas e horas de trabalho trazer à existência as grandes idéias.

Se um dia me virem aplaudindo uma dessas engenhosidades alaranjada não estranhem, é porque minha relação com elas e com quem as fez tornou-se incontida.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Um lugar distinto e um segredo

Aos que trabalham no Grupo Jacto e entram às 7:00h como eu, a ginástica laboral é nossa primeira atividade. Acho que um dos propósitos dela é despertar os mais sonolentos, trocando o alongamento dos músculos das mandíbulas pelos que serão mais necessários para o trabalho, procurando assim evitar contusões.

Para algumas pessoas a manhã é o período mais agradável do dia, e faço parte das tais, pois nestas horas quase tudo se torna intenso. O frescor matinal, exceto no nosso breve inverno, é percebido e recebido como um bálsamo, e os tenros raios solares tingindo o céu são contemplados como um quadro vivo do pintor celestial. Nesse clima, a ginástica ao ar livre concede-me a oportunidade de desfrutar um pouco mais das manifestações de um novo dia, que num discurso sem palavras declara a sabedoria e poder daquele que o criou.

Não conheço todos locais que se realizam os exercícios, mas aprecio o espaço que utilizamos, pois ficamos circundados por arvores e vegetação que quase todo ano tem vigor e beleza, sem contar na sorte de termos atrás palmeiras que testemunham com o silêncio solene dos sábios nossos quase coordenados movimentos. Além disso, o que torna mais distinto o ambiente é que ocupamos um chão histórico ao lado do primeiro edificio da Jacto na avenida Dr. Luiz Miranda.

Conforme a época, noto curiosas aves espiando-nos por breves instantes com olhares discretos e sorrateiros, e outras mais tagarelas e enxeridas. Todas saem das árvores que se prestaram de pousada e logo voam ao encontro de seus bandos para sua sina de navegantes do ar.

Volta e meia, o som de uma bomba d´água que nunca avisa quando vai funcionar, joga seus muitos decibéis sobre a voz feminina que orienta nossos movimentos através das caixas de som espalhadas pela empresa. De segunda à sexta, essa voz repete as mesmas instruções em ritmo cadenciado como um pêndulo que regerão os 6 minutos que nos preparam para iniciar as atividades diárias.

Essa voz tão conhecida, como numa liturgia ouvida por todos ao mesmo tempo, causa-me curiosidade, pois nela há um segredo. De quem é essa voz?... Como será a dona dela?... Ela conhece alguém de nós?... Por onde ela anda?... Quem sabe se um dia ela viesse pessoalmente narrar os exercícios e despedir-nos para o trabalho com a sacramental frase “um bom trabalho a todos”.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

TIs, Key-Users e as formigas

Sempre gostei das reportagens sobre o reino animal. Acho fascinante a sabedoria e diversidade das criaturas que povoam os ares, águas e terras. Fora da TV e dos zoológicos o que mais observei até hoje foram as formigas, já que há épocas que as tais se tornam "onipresentes" e só os cegos estão privados de observá-las.

Como disse o sábio Agur no livro de Provérbios, apesar de pequenas, não podem ser desprezadas, pois tem visão de futuro e direção, provendo no verão o alimento para o inverno. Naturalmente trabalham com ritmo e ordem, deixando qualquer soberano desejando um exército semelhante.

Qualquer equipe que possui a química e o mistério delas põem a mediocridade na poeira, cumpre prazos, transborda adrenalina, abraça causas e persegue alvos como a águia caça sua presa.

Dessa forma vi toda equipe de TI com seus líderes e key-users nestes dias de verão e Projeto de Incorporação - como as formigas - que quando querem criam asas. E voaram mais que o bom Noel e suas renas, bebendo juntos um cálice de trabalho ordeiro e respeito, encorajados e sem deixar alguém para trás, concluíram a obra confiada sem dar chance aos que assistem a uma peça para seus oportunos comentários destilando lamentações com aroma de piedade.

Claro que houve outros protagonistas que merecem seus créditos, mas eles passam e os TIs e key-users tem que transcender para os próximos invernos e verões.

Sim, Agur estava certo, só um tolo para desprezar as formigas e não aprender com elas.