sexta-feira, 13 de agosto de 2010

SHOW DO SOL

Não é difícil fazer do Sol um deus. Entendo pessoas e povos que fizeram ou fazem isso ainda.

Do quintal da minha casa, tipo sobrado, tenho o mesmo privilégio de um vigia sobre um muro. Posso ver os 360 graus do horizonte. Em cada grau de sua linha tem algo para admirar e ser contado. Mas dois pontos são marcantes: onde o Sol aparece e onde se esconde. Eles se transformam em palcos que apresentam um espetáculo gratuito e diferente diariamente.

Sempre que posso, procuro testemunhar estes dois instantes. Esforço-me para ser discreto e sensível o suficiente, para que nada se perca ou interfira nestes minutos quase sagrados. São momentos com roupas de um ritual. Respiro lentamente, com os pés querendo se soltar do chão. Sinto-me quase suspenso no ar.

As primeiras luzes esparramam-se por sobre os ombros do horizonte como um manto real. Anunciam o caminho daquele que reinará no céu no dia que inicia, e delicadamente proclamam às estrelas que elas serão empalidecidas. Em poucos minutos seu arco surge. Assim que os olhos, como janelas, deixam entrar pela alma a imagem do astro em sua primeira saudação, no peito, a marcha do coração acelera. 

Depois de banhar a terra como o mar banha a praia, dando o dia, o astro segue em direção ao poente que se tinge com cores e tons ardentes. O horizonte veste-se de um bordado com véus de cera em fogo. Assim se vai o Sol, como valente para sua tenda após a batalha, deixando-me com a mão acenando, quase venerando-o. 


Soltando o ar, olho pra cima e penso: Qual foi a reação dele, quando abriu os olhos pela primeira vez, e viu Aquele que o fez, entre todo exército de astros e galáxias?