Foi a rua. Foi uma rua que em meus primeiros momentos entre os muros da Jacto mais me impressionou. Poderia ser a organização, limpeza ou outros atributos patentes de uma empresa com cultura ordeira e trabalhadora - mas não foi. Foi a rua que do começo ao fim fende e se põe entre os prédios da Jacto como uma aorta no corpo humano. Do lado de fora, quem passa pela rodovia com os olhos fitando seus muros e telhados mais altos, até com mente rígida facilmente imagina galpões com máquinas e operários circulando e interagindo-se. Mas como um cego de idéias, não pensa que há uma rua lisa e esguia como uma graciosa avenida.

Quando dispara o som da sirene, essa gente – e faço parte dela - transforma este canal que liga os escritórios, depósitos e oficinas como num rio em época de cheias que quer transbordar. Esvaziam seus postos e lotam os poucos metros de largura pelos 400 de comprimento, apresentando um apressado desfile que mais parece uma marcha. Como um tiro rápido e reto seguem para a refeição e descanso, escola, família ou outros fins não contados, até que ao próximo grito da sirene voltam como que escoando pelo canal e vazando novamente para de onde saíram, continuando a construir a própria história e da rua, da empresa, da cidade e de nossa geração.
Esse ritmo e rotina dão um clima, cheiro e alma para essa rua que nos torna iguais, como irmãos na mesma casa, como obras das mãos de um só Criador. Nela caminham os que batem e os que não batem cartão, os que chegam e saem a pé, de bicicletas ou motorizados, e não é incomum ver nela se cruzarem operário, gerente ou presidente.
Ela não conhece o som e o alarido de crianças brincando ou correndo e jogando peladas, nem a boa conversa dos vizinhos ao fim do dia e nem o triste cortejo de um funeral, mas conhece o sonho e o esforço de jovens e pais de família, as idéias e as soluções da engenharia. E assim, com energia e generosidade ela vai permitindo escoar de si trabalho, riqueza e sustento, como um porto que despede os teus para os mares e continentes ao encontro de outros portos e gentes.
Aprendi amar essa rua e sua nobre alma, desconhecida para muitos e sem nome nos mapas, mas particularmente estimada pelos sentimentos e essência que destila pelos poucos metros que nela ando.