quinta-feira, 15 de abril de 2010

PEDALANDO

Acho que os dias que já vivi são mais do que os que faltam pra viver. A sensação é quase a mesma quando olho para o marcador de combustível e vejo que gastei mais da metade do tanque. Então, nada de dar voltinhas que levam a lugar nenhum. Com um olho no marcador e outro na estrada quero prestar mais atenção à vida comum e nas pessoas.

Como fazer isso bem feito ainda estou descobrindo. Comecei pela rotina do trajeto de casa para o trabalho, e vice-versa. Resolvi fazer o percurso de bicicleta. Porque? Bem, as razões óbvias são: é econômico, saudável, ecológico, e por ai vai. Entretanto, outros motivos pesaram mais que o óbvio. Uma: o acento atrás de um volante não é o que mais aprecio. Outra: A percepção de mim mesmo, passando pelas pessoas e elas passando por mim é doce. Sem vidros escuros vejo-as como sou visto.

Pedalando por um quarto de hora, sou acompanhado pelas inseparáveis linhas de trem que fendem nossa cidade. De manhã e ao entardecer, banhadas pelos raios do sol elas ganham cor de ouro, e à noite viram prata pela luz da lua. A brisa, nem sempre favorável, quando sopra traz com ela frescor e odores que dão tempero às pedaladas. Bicicleta, caminho, ciclista e brisa criam uma amizade. Conhecendo-se, ralhando as vezes um com outro, vão combinando-se e formando quase uma simbiose.

No estacionamento das bicicletas da empresa elas convivem pacificamente. Com paciência, sob sol ou chuva aguardam seus donos. Umas modernas e outras mais antigas, coloridas ou desbotadas, todas servem quem as usam como um jeans ou sapato velho que a gente não quer se desfazer.

Na ciclovia pedala-se com a sensação de estar num calçadão. Alem de outros ciclistas, divide-se o espaço com estudantes, trabalhadores, esportistas de plantão e até cães já acostumados com as rodas que passam. Mas dá pra conviver bem nesse microcosmo. O que não dá pra conviver bem é com a falta que a bicicleta está me fazendo desde que um desconhecido a levou da garagem de casa sem pedir, e ainda não devolveu.


11 comentários:

  1. Bom texto amigo. O tema é interessante e o final bem-bolado. Gosto de ler e escrever crônica, estilo bem brasileiro.
    15/04/2010 11:33 - Otávio Nunes

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  2. Não deixe de usá-las por um motivo tão insignificante. O truque é adquirir bike enferrujada e mal arrumada. Saia com ela sem vergonha, com a consciência que não será cobiçada.
    15/04/2010 11:43 - Ana Toledo

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  3. Muito boa sua crônica! Eu também uso muito a bicicleta. Aliás, moro na cidade das bicicletas. Por ser muito plana todo mundo aqui tem uma. Agora, que desagradável esse cidadão que pediu a sua emprestada e não devolve, hein? Aqui tem isso também. Já fui vitma por 3 vezes, aliás todo mundo aqui já foi. Adorei a forma como você falou sobre o hábito de pedalar.É uma sensação muito boa, né não? Parabéns pelo texto, meu abraço.
    15/04/2010 12:49 - Marina Alves

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  4. Amigo,
    Estou passando para agradecer ao seu comentário lá no recanto. visite meu blog também:
    www.textos-e-reflexoes.blogspot.com
    Guardarei seu endereço em favoritos!
    Abraços
    Lu

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  5. Caríssimo Heron: a brisa do tempo bateu no meu rosto e lembro; o quanto andei de bicicleta com o meu pai sempre que podíamos íamos lado a lado com a linha do trem, as vezes a Paulista passava e todos acenava, Que festa linda! Que falta faz a bicicleta e que falta faz todo o movimento do trem. Parabéns. Abraços Poéticos Piracicabanos de Ana Marly de OLiveira Jacobino.
    17/04/2010 13:34
    www.recantodasletras.uol.com.br

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  6. Heron confesso que esses dias procurei em meus e-mails a cronica do mês,já estava com saudades..
    Agora se a pessoa que "emprestou" sua bicicleta ler essa crônica, com certeza estará de devolvendo rssss

    Um abraço
    Gislaine

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  7. Olá Heron!

    Obrigado por mandar cada cronica no meu e-mail. Tem sido de grande valor para pensar e ver as coisas de outro angulo. sobre a bicicleta achei muito engraçado..rsrs..e quem sabe não devolvam a voce...mais se isso não acontecer, vale a pena comprar uma para poder desfrutar das boas paisagens desse caminho. grande Abraço! Deus Abençoe!
    Evelin Miura

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  8. Olá Heron,

    Parabéns pelo dom da escrita e obrigada por se lembrar de mim ao enviar tuas crônicas para seus amigos...

    Um forte abraço e que Deus lhe cubra de suas necessidades...

    Rose.

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  9. Heron,

    Parabéns mais uma vez pela naturalidade com que descreve o cotidiano.

    João Resende

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  10. Edmur Henrique Caetano26 de abril de 2010 às 22:07

    Meu irmão, foi muito bom ler essa cronica pois, tenho usado muito nossas bicicleta como instrumento de estreitar mais e mais a minha amizade com meu filho Samuel e tem sido maravilhoso. O Sr. nosso Deus continue te dando graça para continuar nos agraciando com suas cronicas.
    Um grd. beijo.

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  11. Pastor,
    Lindo seu texto. Fico feliz que também entendeu e vive a bicicleta.
    Lamento que muitas pessoas têm medo de coloca-las em suas vidas por medo do trânsito como aqui em São Paulo.
    Lamento que é interesse de poucos o benefício complementar da bicicleta que mencionou como o contato com as pessoas e as cidades... mas quem sabe um dia elas entendam não é...
    Acredito que o estilo de vida "bicicleta" é facilmente compreensível para que vive o caminho...

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Muito obrigado por seu comentário, ele é muito importante pra mim.