terça-feira, 29 de novembro de 2011

POLEGAR

Sempre considerei o dedo polegar o mais folgado de todos os dedos da mão. Esta impressão começou nas aulas de datilografia. Naquele tempo, datilografar bem era apólice de seguro contra desemprego. Em qualquer entrevista para emprego, de gari a presidente da república, o candidato podia esperar a pergunta: Você tem datilografia? Se a resposta fosse sim, havia chances, se não, só pela misericórdia de Deus.

O feito de datilografar bem exige o uso dos dez dedos das mãos para tocar as quase cinquenta teclas, sem contar as combinações para maiúsculo, minúsculo e caracteres especiais. Esta tarefa era um desafio para os dedos gravarem a posição (em média) de quatro teclas, exceto os ociosos polegares. Enquanto até o dedinho fazia serviço de dedo grande, os polegares repousavam em berço esplêndido sobre a barra de espaço, ocupando-se apenas de trazer à vida os espaços entre as palavras.

Ao repousar os polegares sobre a barra de espaço e os demais dedos sobre as clássicas teclas a-s-d-f-j-k-l-ç, penso que eles ganhavam uma inteligência superior. Veio-me esta sensação há pouco tempo, quando, sem as mãos no teclado, procurei a tecla b. Quase o pânico tomou conta de mim durante os infinitos segundos da procura. Lembrando-me do sábio conselho “muita calma nessa hora”, deitei os dedos na sequência que eles bem conheciam. Pronto! A memória do indicador esquerdo não falhou: parado sobre a letra f, logo achou a letra b, velha amiga tocada tantas vezes pelo fiel amigo.

Entretanto, atualmente noto algo estranho em relação ao uso do polegar. Vejo crianças, jovens, e alguns colegas usando o tal dedo como nunca usei para escrever desde os tempos da brilhantina. Curiosamente, os celulares, iphones, ipods e outros "ais" da modernidade, ainda dependem do formato de teclado com cheiro de naftalina para manter a temperatura da febre de trocar mensagens.

Hoje, as teclas continuam as mesmas, mas o tamanho do teclado encolheu. O conjunto de teclas cabe numa mão, mas as mãos não cabem mais no teclado. Com isso, somente um polegar reina sobre as teclas e suas combinações para povoar de mensagens terra, céus e mares. Será que ele estava preparado para este reinado? Parece que a era da comunicação hi-tech caiu nas mãos de um polegar.

2 comentários:

  1. Excelente crônica, como sempre!!!! Obrigada por sempre nos presentear com seu talento!!!!! E obrigada por ter se lembrado de mim!!!! Confesso que fiquei lisonjeada! Que DEUS o abençoe mais a cada dia!!!

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  2. Caro Heron, o título chamou minha atenção. pensei tratar~se de algo a respeito da história do "Pequeno Polegar". Logo o engano se desfez, e deparei-me com sua inteligente crônica a respeito do uso do dedo polegar. Assim como você, pertenço à geração da s velhas Hemington, e sofria muito nas aulas de datilografia e nas entrevistas e cocursos para empregos. Você fez uma viagem no tempo; cheguei a sentir-me jurássico. A juventude atual, que tecla com uma incrível rapidez naqueles aparelhinhos high tech, não fazem idéia do que seja uma "máquina de escrever". Confesso invejá-los na rapidez da troca de mensagens, mas não na quantidade de erros que cometem nem nas tolices que trocam entre si. Hoje uso computador, e achava que jamais aprenderia, e não aprendi mesmo direito. Mal uso alguns recursos...Muito bem avaliaste o upgrade que o polegar adquiriu. Gostei muto deste seu texto. Um abraço, José

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Muito obrigado por seu comentário, ele é muito importante pra mim.